O autor cubatense Manoel Herzog lança seu novo romance – Os Bichos – no Bloco Cultural, dia 11 de abril. Editado pela Realejo – e tendo o celebrado e conterrâneo escritor Marcelo Ariel na contracapa – o livro aborda um universo que mistura tarô, natureza, monarquia francesa numa alegoria que usa as vozes de 10 animais para falar de caráter, ideal e corrupção. O tom é inteligente e irônico e há ainda outro atrativo: várias personalidades da Baixada Santista são citadas ao longo da trama – como Ivo, da banca.O autor, que lamenta não haver livrarias em Cubatão, esteve inclusive na frança, mergulhado em intensa pesquisa para um melhor resultado do seu trabalho. Agora é apreciar o resultado.
POVO: Seu romance é ambientado em cidade fictícia – seria precipitado supor alguma influência do autor Afonso Schimidt e sua também fictícia “Zanzalá”?
Não, não seria. Partilho do pensamento que as obras literárias dialogam com suas antecessoras, e os escritores ancestrais influenciam, de uma forma ou de outra, os posteriores. O resgate da obra de Schimidt se dá no aspecto de que o livro traça um paralelo entre a política atual e a monarquia francesa. Não esqueçamos que Schimidt saiu de Cubatão com poucos recursos e perambulou por Paris alguns anos, viagem que influenciou toda a sua obra. Quanto a “Zanzalá” e a cidade do “Os Bichos”, creio que minha visão pessimista destrua a utopia que Schimidt criou no século passado, antes da industrialização. Ele imaginou uma cidade futurista, evoluída, civilizada, pautada nas artes e na ciência, onde os homens de cultura davam as diretrizes da sociedade. A cidade de ”Os Bichos”, embora possua talvez a maior renda per capita do país, é um império de obras inúteis, mau-gosto, corrupção, pobreza e desrespeito ao ser humano, por conta da privatização do setor público e compra das consciências dos dirigentes.
POVO: No livro, há personagens inspirados em personalidades reais da Baixada Santista – algum de Cubatão?
Pedi licença para usar o nome de alguns amigos, que são parte da cultura da cidade, penso eu: Chico da Adega, Sérgio Pelé, Ivo da Banca, Sérgio da Farmácia Vila Rica, Marcelo Onuki. Atribuí os nomes de alguns outros amigos a personagens: Heitor, Mineiro, Francinaldo e André, por exemplo. Mas as personagens não refletem estas pessoas. As demais personagens do livro são absolutamente ficcionais.
POVO: Você compara os antigos monarquistas franceses aos políticos brasileiros da atualidade – o problema está na ideologia e forma de governo ou nas pessoas?
A História tem demonstrado que, a despeito da força que move as revoluções e opera as mudanças, o Homem anda em círculos, não se liberta da corrupção, do egoísmo, e da incontrolável mania de explorar seu semelhante. O paralelo com a monarquia, do nascimento até o declínio que culminou com a Revolução Francesa, o terror que se seguiu e a falácia que é a atual social-democracia-neoliberal, da qual são reflexos os governos de ultradireita na Europa, demonstra que aqui, na latinoamérica, rumamos para algo parecido: sob o rótulo de governos “progressistas” vivemos o império dos bancos e das grandes corporações.
POVO: Quando tempo levou para escrever o romance?
48 anos, ou seja, desde que nasci. Um livro é um processo de toda uma vida. Mas destaco os últimos anos, em que comecei a criar alguns bichinhos, cachorro, boi, porco, etc. Da observação da Natureza, em comparação com a vida social e profissional que a gente leva, chega-se a uma inelutável conclusão: como os bichos são sábios. Agora, escrever mesmo, botar no papel, levou seis meses, com revisão e tudo.
POVO: No romance “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, há também a discussão política e filosófica – a semelhança pára por aí?
Orwell é um autor cuja influência está muito presente no mundo atual. O fim da privacidade, a sociedade onisciente, câmeras pra todo lado, gravações, escutas, o horror que se vive, mas que também faz descobrirem esquemas de corrupção que nunca se pensou viessem a revelar, foram previstos por ele no século passado. Lembremos que o termo Big Brother é invenção de Orwell, mas nada tem a ver com essa estupidez que a televisão veicula. Quanto a um paralelo com “A Revolução dos Bichos”, penso que não. Na obra do inglês os bichos tomam o poder, corrompem-se e acabam tão torpes quanto o ser humano. No meu livro procuro mostrar quanto o homem trata mal seus irmãos animais, e quanto trata seus próprios irmãos humanos como animais – parto de uma visão mais próxima a São Francisco de Assis.
POVO: Existe uma Cubatão que produz cultura – e a produz com considerável pujança. Considerando o fato de ela estar ao pé da capital São Paulo, a razão de não ser ainda reconhecida no meio cultural está em sua auto-estima ou no preconceito dos que estão à volta?
Não sei opinar sobre questões de política cultural. Sei que temos expoentes na literatura (Marcelo Ariel, Alessandro Atanes e outros), na música (Manoelito, só pra citar um nome), no teatro, na dança, enfim, em todas as manifestações artísticas. A cidade é um bom celeiro de artistas, me parece. E isto é paradoxal à política nacional-desenvolvimentista que aqui impera, onde a produção de bens de consumo e o lucro imediato dão a tônica da sociedade: não temos cinema, nem teatro, e nem, pasme, livraria. Há uma tendência a se desqualificar a cidade, impondo a filosofia de que aqui é um canteiro de obras, um dormitório, quando muito, tendência esta que as políticas culturais, até então, não fizeram por onde desmistificar. Cultura, aqui, tem sido sinônimo de evento grandioso, showmício, etc. Tenho muita esperança no atual secretário de Cultura, Wellington Borges, meu amigo e, reconhecidamente, uma pessoa capaz. Espero que o contexto político lhe permita impor as mudanças que a cultura local requer, para acabar com esse estigma de baixa autoestima.
Sobre Manoel Herzog: Advogado atuante há 22 anos, escreve desde pequeno. Participou de antologias. Publicou seu primeiro livro em 1987, “Brincadeira Surrealista”, de poesias, pela antiga Livraria Iporanga. Em 2009, foi finalista do prêmio Sesc com o romance ainda inédito “Fuga Amazônia de Mim”, sobre um homem na faixa dos quarenta anos, em crise, que vai ao Amazonas repensar a vida. Ministra oficinas literárias. Em breve, deverá passar a ministrá-las também na Realejo Livros. “Diante da exiguidade de espaços culturais na região, a Realejo é um ponto que é referencial. Estamos discutindo essas oficinas para reforçar ainda mais essa questão da livraria como pólo cultural. Não com a pretensão de ensinar ninguém a escrever, por que isso é impossível. Quem escreve é o viver”, conclui Herzog.
Fico extremamente feliz que um escritor de Cubatão demonstre uma qualidade literária tão boa. Não sabia que ele era de Cubatão, cidade que também moro. Nesta data iniciei, com ele, como aluno, uma oficina literária na livraria Realejo, pela qual foi lancado seu livro “Bichos”. E, com certeza, este escritor chegará muito além do quejá alcançou. Parabéns, Herzog!!!
Fico extremamente feliz que um escritor de Cubatão demonstre uma qualidade literária tão boa. Não sabia que ele era de Cubatão, cidade que também moro. Nesta data iniciei, com ele, como aluno, uma oficina literária na livraria Realejo, pela qual foi lancado seu livro “Bichos”. E, com certeza, este escritor chegará muito além do quejá alcançou. Parabéns, Herzog!!!
é livro de descerebrado!