Cubatão Danado/Tanada de Bom
Com uma certa relutância, entendendo o paradoxo o qual Cubatão vive dentro e fora desta pomposa festa, atrevi-me a contrariar a minha indignação e fui ao Danado de Bom conferir in loco aquilo que eu já tinha a certeza que encontraria, entre algumas surpresas, agradáveis, desagradáveis e outras que não eram surpresa nenhuma, apenas atitudes patéticas e biodegradáveis. E não tenho vergonha nenhuma de dizer que fui à festa; para ter uma opinião concreta é necessário entender aquelas questões básicas para elaboração de uma matéria: O que, Quando, Onde, Quem, Como e Por quê. Tendo sido patrocinada ou não, sabemos que o “Quanto” ultrapassou a casa de R$ 5 milhões.
Foi certamente uma linda festa, pelo menos nos três primeiros dias. Muita gente, muitas opções de fast-food nordestino, organização, ótimos shows (só vi Paralamas, Zeca Baleiro e Moraes Moreira) queimas de fogos, telões, jogo de luzes, interação com a internet, drone registrando todos os momentos. Bom, quando se tem dinheiro para pagar gente com competência para organizar um evento, o resultado é o que todos viram. Parabéns aos organizadores, realmente foi um sucesso.
Porém, como aquela máxima que aconteceu na Copa do Mundo de 2014, sobre os bilionários e modernos estádios construídos exclusivamente para a ocasião, quando ainda faltava construir um país do mesmo nível do lado de fora deles, no caso de Cubatão e o do Danado de Bom, apenas faltou competência para organizar e manter uma cidade Danada de Boa fora da festa.
Sobre as surpresas desagradáveis, vi muita gente, entre jovens e adultos, fumando maconha abertamente, sem nenhuma vergonha na cara, sem pudor ou respeito se ao redor estavam crianças, jovens e adultos de bem. A noite do show do Zeca Baleiro, que aconteceu após a apresentação do Nação Zumbi, parecia uma triste e deprimente reedição caiçara de Woodstock. Se eu imaginasse, teria levado máscara de proteção anti-gás. Tudo bem, quando mais jovem, eu não fui 100% certinho mas pelo menos eu e a maioria das pessoas em outras épocas tínhamos a decência e o respeito para com os outros de manter a discrição sobre as imbecilidades que cometíamos.
Quanto às não-surpresas, aquelas atitudes patéticas e biodegradáveis, o que se pode dizer quando ocorre uma festa popular com entrada gratuita, organizada com dinheiro público por uma administração municipal cujo partido afirma representar o povo e ser contra a elite branca capitalista, burguesa e coxinha, e aí você vê um bando de servidores desta administração, entre secretários e demais comissionados, seus familiares e amigos convidados, com pulseirinhas coloridas no pulso, bem ao estilo das festas e baladas privadas, separadas do povo em camarotes e naquele cercadinho reservado bem no gargarejo do palco, e ainda com seguranças? O que dizer disso então? Cadê aquela decisão de “autoridades fora do palanque, no chão junto com o povo”, como orgulhosamente proclamada em 2009 pela prefeita no primeiro desfile cívico de 9 de abril? A verdade é que quando as vulgo “autoridades” se acham seres diferenciados pelos cargos momentâneos que possuem, e merecedores de privilégios devido à proximidade e intimidade com o poder, isso mostra que nada, nadica de pitibiriba está bom, para início de conversa. Sinto muito se alguns amigos usufruíram desse “free pass”, desse “green card” para se separarem da restante classe plebéia. Assistir aos shows do lado de fora do “solo sagrado”, mesmo com toda a maconhada no ar, foi bem legal e proporcionava uma visão bem interessante das cenas patéticas protagonizadas por candidatos e autoridades aladas.
Enquanto isso, do lado de cá das muralhas que cercam a Cubatão que todos gostariam de ter, ainda existe a cidade que não merecemos nem um pouquinho ter. Sugiro então que desviem imediatamente de função as pessoas que organizaram o evento, e as coloquem para solucionar de uma vez por todas os nossos problemas nas áreas de Saúde, Educação, Turismo e Lazer, Finanças, Habitação, Obras, Indústria e Comércio, Gestão, Governo etc. E que toda a real “sofrência” que estamos passando fora das grandiosas festas chegue ao fim.
(*) Mário Torres Filho é professor das redes pública e privada de ensino. E-mail: matofi68@hotmail.com