Poeta Marcelo Ariel apresenta carta aberta

Carta aberta aos candidatos a prefeito de Cubatão: Caros amigos, como vocês podem ver com seus próprios olhos, nossa cidade retrocedeu muito nestes últimos anos, somos como uma cidade da Síria devastada por bombas, bombas de incompetência administrativa, bombas de corrupção velada e difícil de provar, embora absolutamente visível e diluída no ar, como a poluição, bombas de crise fabricada por décadas de uma política que privilegia apenas a macroeconomia em detrimento do desenvolvimento da qualidade de vida, não irei aqui, erguer um previsível muro de lamentações, o objetivo desta carta é propor e tentar pretensamente acender um fósforo no escuro, em apenas uma das inúmeras salas desse enorme castelo afundando no mangue, chamado  Poder Público.

A Sala da Cultura ou Setor Cultural, a situação desta Sala é uma das piores, com diversas infiltrações, ratos, baratas e curtos-circuitos, pedindo uma urgente reforma geral e abrangente, a começar pela reforma e restauro do prédio da Biblioteca Municipal, a Biblioteca Central que fica ao lado da Igreja, existe um projeto para esta reforma, criado pelos competentes e heroicos, diretores desta instituição, com a providencial ajuda de uma figura brilhante, cujas ideias nossa cidade precisa valorizar mais, me refiro aos senhores Francisco, que dirige a instituição e Rubens, uma vez que um dos digníssimos seja empossado, sugiro uma reunião com os dois, no sentido de viabilizar um conjunto de medidas intersetoriais que tornem possível a reforma, restauro da fachada e ampliação do imóvel e não apenas isso, conheçam e estudem o projeto, muitas ideias extraordinárias estão nas gavetas e nas mentes de muitos servidores, que foram e são descartados como refugos em detrimento de néscios e desinteressados COs, sem nenhum compromisso com nossa cidade, por favor não repitam os milhares de erros dos seus antecessores, valorizem quem vive aqui e pensa a cidade.

Tenham uma perspectiva histórica que parte do presente para o passado, no sentido de resgatar, décadas de abandono e negligência que transformaram nossa cidade em uma anticidade, vasculhem as gavetas, promovam diversas auditorias, façam uma limpeza geral, a Cultura não se restringe apenas à manutenção de grupos artísticos e eventos, aliás, uma vez eleito, gostaria que o empossado tenha a coragem de romper com uma política de promoção de eventos e iniciasse uma revolução em nosso município, começando uma verdadeira política de criação de programas de fomento para a Cultura, algo que não deve ser confundido com, a criação de um grupo de privilegiados, tocados pela graça da barganha eleitoral, existe um Plano Municipal de Cultura, que precisa ser aprofundado, detalhado e cada segmento por sua vez, poderá ser convidado a pensar de modo criativo, um Plano específico que atenda as necessidades de sua área, sem contudo isolar o segmento em um gueto, como acontece com o segmento música, por exemplo, a Cultura é uma sala sem biombos separando seus trabalhadores em departamentos, existe uma profunda organicidade e interação entre todos, por favor, senhores pensem que nada está separado de nada e tudo conversa com tudo, inclusive as outras salas do castelo, estão ligadas entre si, Saúde está ligada a Cultura que por sua vez está ligada ao Turismo que está ligado a Comunicação, não permitam que um setor ofusque e escravize outro, fato que ocorreu com a Comunicação interferindo desastrosamente na Cultura, intersetorialidade não é criar dependência hierárquica, mas diálogo complementar e pensamento em rede. Reúnam toda a energia que existe em vocês com o fim de escutar, escutar é ver e ver  é escutar, escutem os setores e segmentos, não pensem de cima para baixo, falar não é ver, lembrem-se, escutar é ver, tomem cuidado com a cegueira que torna tudo o que não for conivente com vossa visão de mundo, invisível e perigoso, tomem cuidado com a paixão pelo poder, o único poder que realmente temos em vida, é o poder de amar nosso semelhante, justamente porque ele é diferente e o de respeitar esta diferença até o ponto em que ela se converte em um elogio da autonomia e da liberdade do outro.

Sim, escolham um Secretário ou Secretária de Cultura, mas deem, a autonomia econômica, uma verba digna que contemple ao menos 2% do orçamento com a condição de que trabalhe com o Conselho Municipal de Cultura, que não faça nada, sem a anuência deste Conselho e que este Conselho por sua vez, não faça nada sem a anuência de sua comunidade, sem conversas paralelas na Sala da Cultura, sem esquemas, sem favorecimentos, sem perseguições veladas, sem partidarismos limitadores, sem má vontade, há um Fundo Municipal de Cultura que está pronto para ser executado, uma coisa importante senhores, em relação ao Conselho Municipal de Cultura, a palavra deliberativo, não se refere a uma doença, ela precisa ser pensada como uma divisão, uma distribuição ou no sentido mais positivo que os senhores puderem conceber, uma perda de poder,  tenham a grandeza de dividir um pouco do poder que lhes foi outorgado com a  comunidade, principalmente com a comunidade pensante da cidade.

Em relação ao meu segmento, a saber, Livro, Leitura, Escritor e Biblioteca, desde já me coloco á inteira disposição daquele dentre os senhores que tiver a bendita-maldita-privilegiada-e-terrível sorte de ocupar o cargo de Chefe do Poder Executivo, estou acessível para reuniões de trabalho, com o objetivo de criar um Plano Municipal do Livro, Leitura, Escritor e Biblioteca. Temos grandes escritores em nossa cidade, grandes leitores, precisamos de um número de Bibliotecas equivalente ao número de bares e biqueiras, compreendam, todos tem o direito de serem e fazerem o que quiserem de suas vidas, mas os senhores por um período de tempo breve, terão este direito limitado pela compaixão e pela devoção a uma causa humanitária, política é altruísmo, ganhando preparem-se para perder, principalmente vossa vaidade, não governem do alto da Torre do castelo, ouçam as vozes das ruas, as pessoas “não necessitam” de governos, nem de alguém que lhes diga o que devem fazer, necessitam de uma vida digna! Boa Sorte!

(*) Marcelo Ariel, escritor, autor dos livros “Tratado dos Anjos Afogados”, “Retornaremos das Cinzas para sonhar com o Silêncio”, “O rei das vozes enterradas” entre outros. Atualmente coordena Oficinas de Criação Literária em Santos e São Paulo. E-mail: marcelo.ariel91@gmail.com

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