Sobre as vilas operárias de Cubatão (Fabril e Light)

Servidor de carreira da Prefeitura de Cubatão e ex-secretário municipal de Cultura, Welington Borges é um estudioso das vilas operárias da cidade.

O Jornal ‘A Tribuna de Santos’ nos trouxe uma importante matéria sobre o patrimônio cultural de nossa cidade, no dia 6 de agosto. O texto aborda a importância cultural de nossas vilas operárias no contexto histórico do desenvolvimento econômico do Brasil a partir das primeiras décadas do século passado. Neste sentido, o significado destes bens culturais extrapola as divisas do município deixando evidente um gigantesco legado histórico que o país possui e que está localizado em Cubatão.

A preocupação do município ao convocar a sociedade para iniciar uma discussão a respeito do tema demonstra que estamos avançando rumo a uma política de preservação da memória da cidade. Essa luta é histórica, pois teve início com antigos moradores que conheciam o verdadeiro valor das vilas operárias da Fabril e da Light. Porém, lamentavelmente ainda hoje muitos desconhecem o potencial histórico que possuem. As vilas operárias estão relacionadas aos conceitos mais primitivos da Revolução Industrial iniciada na Europa do século XVIII. Naquele modelo de capitalismo era sumamente importante a manutenção de vilas no entorno das fábricas perdurando este modelo até meados do século passado. Eram fundamentais para a saúde das fábricas e do próprio sistema. Somente deixou de existir em razão das novas tecnologias condenando-as ao abandono ou destruição considerando a especulação imobiliária e outros fatores. Então para que elas servem? A resposta está nas diversas Cartas Patrimoniais e outros documentos que atestam o valor cultural destes lugares e as potencialidades para se explorar do ponto de vista histórico-cultural e do turismo.

A proposta de um reconhecimento nacional destes bens pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN e, porque não, da Unesco como Patrimônio da Humanidade é o indicativo de que possuímos uma rica história e podemos colaborar com o desenvolvimento local e nacional. Já há tempos discutíamos uma proposta semelhante com relação ao patrimônio ferroviário, quando da proposta de reconhecimento pela Unesco da Vila de Paranapiacaba no município de Santo André cuja ligação com Cubatão se dá pelos antigos trilhos da São Paulo Railway (SPR).

Embora reconheça a importância do tombamento histórico, defendo antes um amplo trabalho de educação patrimonial para que toda a sociedade compreenda o valor e defenda a preservação das vilas em consonância com um projeto de ocupação consciente e organizada onde o patrimônio histórico seja realmente valorizado.

E que no futuro nossas vilas operárias sejam consideradas Patrimônios Históricos Brasileiros reconhecidos pela Unesco ao lado da Cidade Histórica de Ouro Preto (Minas Gerais); do Centro Histórico de Olinda (Pernambuco); das Missões Jesuíticas Guarani, Ruínas de São Miguel das Missões (Rio Grande de Sul e Argentina); do Centro Histórico de Salvador (Bahia); do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (em Congonhas do Campo, Minas Gerais); do Plano Piloto de Brasília (Distrito Federal); do Parque Nacional Serra da Capivara (em São Raimundo Nonato, Piauí); do Centro Histórico de São Luís (Maranhão); do Centro Histórico da Cidade de Diamantina (Minas Gerais); do Centro Histórico da Cidade de Goiás (Goiás); da Praça de São Francisco (na cidade de São Cristóvão, Sergipe);  no Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar; do Conjunto Moderno da Pampulha (Minas Gerais) e neste ano de 2017, e mais recentemente, do Sítio Arqueológico Cais do Valongo (Rio de Janeiro), todos patrimônios da humanidade em solo brasileiro.

Não é utopia, pois os lugares existem. Somente precisamos saber valoriza-los!

(*) Welington Ribeiro Borges é Historiador e ex-secretário de Cultura de Cubatão. E-mail: wellborgs@yahoo.com.br

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